Cláudio Paixão

Cláudio Paixão
sorriso de menino

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Palavras de Rute Gonçalves...

No início deste Verão Incerto

Hoje apetece-me falar-te. Contar-te a minha vida desde que te foste, as minhas pequenas histórias banais, os meus desencontros com o mundo. Estou junto da tua sepultura, sentada no início deste Verão incerto, as mãos trémulas e o coração nas trevas, o corpo e a alma devastados pela tua ausência. Quero dizer-te tantas coisas, tantas que se atropelam umas ás outras dentro da minha mente já quase louca, tantas que nem sei se vou conseguir expressá-las todas. Mas tenho a certeza disto: não aceito a tua vida interrompida, não aceito o vazio que persiste, não aceito o mundo sem tu existires nele, sorridente e límpido, como tu sempre foste nos dias felizes.
Desde que partiste, tudo ficou fora do sítio. A casa desarrumada, a roupa fora das gavetas, os livros caídos das estantes. Os corações fora do corpo, o amor sem encaixe. E eu sem ti.

O tempo parou nesse dia, e depois disso, comecei a viver num tempo diferente, num universo paralelo, uma espécie de sonho eterno, de onde nunca mais vou poder acordar.
Vivo empurrada pela rotina dos dias, pelas obrigações quotidianas, pelo tempo impiedoso que corre sempre, regular e inexorável, sem pausas.

Pergunto-me muitas vezes, como é possível que, mesmo depois da tua morte, o sol tenha continuado a nascer todos os dias, e as estações tenha mudado, e que alguém tenha sido feliz. Não entendo. O certo seria que tudo ficasse suspenso nesse momento, nesse terrível segundo em que te separaste da vida e de todos nós.
Não consigo viver sem ti. Estou, desde esse dia, á beira do abismo, fascinada pela vertigem da escuridão, ás cegas no centro do labirinto. Não encontro a saída. Estou, definitiva e irremediavelmente, perdida.

O tempo que passa não me alivia a dor. Pelo contrário, torna-a cada vez maior, mais forte, generaliza-a ao corpo todo, torna-me cada vez mais vulnerável. O tempo é escasso, não me chega para lamber as feridas, para me consolar o espírito. Tenho saudades tuas. Muitas. E isso dói-me.

Preciso dizer-te que estou desencontrada do quero e do que preciso. Como quando nos conhecemos, lembras-te? Isso foi há muito tempo, tu eras uma criança traquina e tinhas o coração nos olhos e alma exposta, e sorrias para mim com a confiança e o amor de um irmão.
Gostava que estivesses aqui e que me abraçasses como nesses tempos atribulados, em que chorámos os dois para logo de seguida explodirmos em gargalhadas sonoras. Tu conhecias profundamente o meu coração, a minha essência, e hoje, queria que estivesses aqui, junto a mim, para me dar a mão e para me segredares “Eu entendo”.

Estou destroçada e as lágrimas não são suficientes. Estou desfeita e o tempo passa depressa demais, a vida esmaga-me e tu não regressas.

Sentada junto á tua sepultura, no início deste Verão incerto, quero dizer-te que o meu amor é eterno assim como tu, as tuas mãos de criança e o teu sorriso brilhante, iluminando a minha noite.

Tenho saudades tuas. Muitas.


Rute Gonçalves
25 Junho 2010

2 comentários:

  1. Olá Rute,não nos conhecemos,nem é perciso,conheciamos o Claudio.E talvez por isso sinto necessidade de te deixar algumas palavras,que espero,não me leves a mal "o atrevimento".Hoje passaram dois mêses e ao lêr as tuas palavras também choro,mas eu apesar da dor,acredito que se alguém tão especial partiu,tão cedo é porque era bom demais para este mundo.Um mundo cada vez mais cruel,falso,cheio de injustiças ou seja,tudo coisas que o Claudio detestava!Doi...e a dor vai mudando mas não passa...transforma-se...ele é agora mais um guardião,um guia na minha vida,continuo a vêr o sorriso,a ouvir a gargalhada...a falar com ele..um dia quando nos reencontarmos,vou ralhar muito com ele por nos ter deixado tão cedo.Aposto que me vai abrir O sorriso e dizer "daqui ainda fui mais teu amigo e olhei por ti!" É assim o Claudio...não te quereria no abismo,na escuridão...ele ajudarte-ia a saires do labirinto,certo? Força! Age como ele quer...vive! Bjs

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  2. Desculpem comentar... mas sem dúvida que "Força! Age como ele quer...vive" é a maior resposta que podemos ter no meio de tanta revolta, injustiça e falta de lógica em tudo isto... porque não há a miníma dúvida de que se ele nos pudesse dizer algo antes de partir seria exactamente isso... viver, lutar e ser feliz...

    Beijos e força

    Fred

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