Cláudio Paixão

Cláudio Paixão
sorriso de menino

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Palavras de Marta Graça...

Olá meu querido amigo…

Foi apenas hoje que, por acaso, encontrei o teu blog… ver os comentários, abrir uma pagina com o teu nome… fiquei com o coração minúsculo novamente, como quando me ponho a ver fotos ou a recordar-te…!
Faltou-me o ar quando recebi uma msg do Fred a dizer “Já sabes o que aconteceu com o Paixão”, automaticamente liguei-lhe, eram 9h da manhã de sábado “um barco no rio Sado… actividade do Ikea…está uma pessoa desaparecida…é o Cláudio”. Amigo, eu só consegui dizer “eu vi essa noticia ontem…” e desabei… corri para o meu pai a chorar, a tropeçar em pensamentos, em palavras, desesperada… eu vi a noticia e nem no meu pior pesadelo eu pensava que poderia ser alguém meu amigo… TU!
Os dias foram passando, e o sufoco de não sabermos de ti foi horrível, então depois de ver o local, a m… que aquele rio é, eu só conseguia pensar “eu não consigo imaginar que ele ali está” e muito menos que não te iriam encontrar… e no dia que encontraram faltou-me o ar novamente, mas aí com uma intensidade inexplicável, explodiu em mim tudo o que segurei ou tentei segurar até te encontrarem…
O pior dia foi no teu funeral, a ultima despedida, sentia-me e sinto-me exausta de me despedir de pessoas queridas…não sou crente e fico menos ao vivenciar algumas situações porque se Deus existisse, então escolhia os maus e não os bons para partirem…

Quando eu tinha 16 anos vi um primo ser “comido” pelo cancro (ele tinha 29 anos)…Em 2007 à minha prima (a irmã do meu primo), foi-lhe diagnosticada a mesma doença…e ver um filme deste duas vezes… é horrível! Em 2008, vi a minha prima a morrer a cada dia um bocado, esteve internada um mês e eu ia todos os dias vê-la com medo de ser o ultimo dia dela (tinha 30 anos)... ainda em 2008, uma tia e o meu avô… perdi e despedi-me dos três no mesmo ano (Abril, Novembro e Dezembro)… quando o meu avô partiu eu respirei de alivio e pensei “acabou o sofrimento diário deles e o nosso”… sendo que o nosso não desaparece nunca, vai ganhando outra forma, vai acalmando…
Familiares já perdi (não só os que mencionei)…um amigo não pensava perder e muito menos de forma tão estúpida, cruel, ridícula e injusta… eu não quero saber como foi, ouvi tanta coisa e algumas não faziam sentido nenhum portanto, eu prefiro não saber…

Quando penso em ti vem-me à lembrança tanta coisa… dos tempos de escola, que fique o registo, eu as vezes que fui para a rua nas aulas foi por Tu me fazeres rir e não me controlar. Lembro-me de te virares para mim a meio das aulas e dizeres “marta dá-me um beijo na boca” (a mim e a outras colegas porque não te dávamos os beijos, doido…) e agora, sempre que estávamos juntos, não havia uma única vez, que no meio das nossas palhaçadas / parvoíces tu não dissesses “marta, és tão parva” e desatávamos a rir porque era assim que tu estavas sempre e que eu também gosto de estar…a rir!

Tu és querido por muitas pessoas, 26 anos cheios de vida e marcaste cada um de forma especial e inesquecível!! Obrigada… é um prazer e um privilégio ser uma dessas pessoas. Eu adoro-te e tu serás inesquecível para mim!

Um grande beijinho para toda a tua família porque se para nós amigos é difícil, para a tua família ainda mais… Força!

Tenho e terei para sempre saudades tuas…

Marta Graça

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Palavras de Rute Gonçalves...

No início deste Verão Incerto

Hoje apetece-me falar-te. Contar-te a minha vida desde que te foste, as minhas pequenas histórias banais, os meus desencontros com o mundo. Estou junto da tua sepultura, sentada no início deste Verão incerto, as mãos trémulas e o coração nas trevas, o corpo e a alma devastados pela tua ausência. Quero dizer-te tantas coisas, tantas que se atropelam umas ás outras dentro da minha mente já quase louca, tantas que nem sei se vou conseguir expressá-las todas. Mas tenho a certeza disto: não aceito a tua vida interrompida, não aceito o vazio que persiste, não aceito o mundo sem tu existires nele, sorridente e límpido, como tu sempre foste nos dias felizes.
Desde que partiste, tudo ficou fora do sítio. A casa desarrumada, a roupa fora das gavetas, os livros caídos das estantes. Os corações fora do corpo, o amor sem encaixe. E eu sem ti.

O tempo parou nesse dia, e depois disso, comecei a viver num tempo diferente, num universo paralelo, uma espécie de sonho eterno, de onde nunca mais vou poder acordar.
Vivo empurrada pela rotina dos dias, pelas obrigações quotidianas, pelo tempo impiedoso que corre sempre, regular e inexorável, sem pausas.

Pergunto-me muitas vezes, como é possível que, mesmo depois da tua morte, o sol tenha continuado a nascer todos os dias, e as estações tenha mudado, e que alguém tenha sido feliz. Não entendo. O certo seria que tudo ficasse suspenso nesse momento, nesse terrível segundo em que te separaste da vida e de todos nós.
Não consigo viver sem ti. Estou, desde esse dia, á beira do abismo, fascinada pela vertigem da escuridão, ás cegas no centro do labirinto. Não encontro a saída. Estou, definitiva e irremediavelmente, perdida.

O tempo que passa não me alivia a dor. Pelo contrário, torna-a cada vez maior, mais forte, generaliza-a ao corpo todo, torna-me cada vez mais vulnerável. O tempo é escasso, não me chega para lamber as feridas, para me consolar o espírito. Tenho saudades tuas. Muitas. E isso dói-me.

Preciso dizer-te que estou desencontrada do quero e do que preciso. Como quando nos conhecemos, lembras-te? Isso foi há muito tempo, tu eras uma criança traquina e tinhas o coração nos olhos e alma exposta, e sorrias para mim com a confiança e o amor de um irmão.
Gostava que estivesses aqui e que me abraçasses como nesses tempos atribulados, em que chorámos os dois para logo de seguida explodirmos em gargalhadas sonoras. Tu conhecias profundamente o meu coração, a minha essência, e hoje, queria que estivesses aqui, junto a mim, para me dar a mão e para me segredares “Eu entendo”.

Estou destroçada e as lágrimas não são suficientes. Estou desfeita e o tempo passa depressa demais, a vida esmaga-me e tu não regressas.

Sentada junto á tua sepultura, no início deste Verão incerto, quero dizer-te que o meu amor é eterno assim como tu, as tuas mãos de criança e o teu sorriso brilhante, iluminando a minha noite.

Tenho saudades tuas. Muitas.


Rute Gonçalves
25 Junho 2010

O NOSSO REFUGIO – O REFUGIO DE DOIS ADOLESCENTES

Parece que ainda nos vejo, que ainda nos sinto neste areal. Digo isto porque estou aqui... na nossa praia... no nosso refúgio...

Um refúgio tão pouco discreto, para a nossa tão pouca idade... mas nada que nos impedisse de trocar um beijo atrás de uma rocha, de nos abraçarmos durante um mergulho, ou até mesmo de fugirmos para a nossa tão querida “pegada do boi” quando o desejo assim o queria... no meio de toda aquela multidão eramos só nos os dois...

Lembro-me de sacudires as nossas toalhas e as estenderes o mais junto possível. Um gesto tão simples, mas com um significado tão grande... queriamos estar o mais juntinhos que nos fosse possivel e permitido. Ficavamos ali, deitadinhos, e enquanto o sol secava e aquecia os nossos corpos bronzeados, o nosso sorriso, o nosso olhar e a nossa troca de caricias aquecia-nos o coração.

Os finais de Verão nunca foram faceis para nós... a separação, a distância, a falta de maturidade, a diferença de idade, o medo... acabou por destruir uma parte da nossa história. Parte essa que infelizmente nunca mais conseguimos recuperar...

Estarmos juntos continuou a ser o melhor do mundo e ambos sabemos que os sentimentos que nos unia continuaram a ser fortes. Os nossos olhos continuaram a brilhar, as nossas mãos continuaram a suar, os nossos corações continuaram a disparar, a nossa voz continuou a tremer... mas nunca mais tivemos coragem ou oportunidade para assumir e recuperar a outra parte da história. Não consigo entender o porquê... os nossos amigos acham k tu porque estavas magoado e eu pela minha timidez, pela minha insegurança.

Desculpa se te magoei, desculpa ter sido tão fraca...

Foste sem dúvida a pessoa mais sensível, mais carinhosa, mais meiga, mais brincalhona, mais alegre, mais tolerante, mais sincera que passou pela minha vida. Tinhas um sorriso lindo as tuas gargalhadas eram tão contagiantes... deste vida aos meus dias. Obrigada por tudo o que me deste. Tudo o que tu me deste soubeste dá-lo muito bem... ao teu lado eu fui feliz.

Tinhas uma forma de estar na vida única e isso só quem te conheceu o irá compreender. Sinto que foi um privilegio ter feito parte da tua vida...

Olho agora para estas ondas e penso, nas tantas vezes que te vi entrar neste mar , por vezes tão bravo e perigoso, onde muito pouca gente ousava entrar. Mergulhavas , nadavas, eras ágil como um peixe... continuo à procura de uma explicação, de uma resposta... não encontro... acho que nunca vou encontar.

Tenho tantas saudades tuas... porque é que nos abandonaste tão cedo???

Parece que ainda oiço a tua voz, as tuas gargalhadas, que ainda sinto o teu cheiro o teu toque. Ainda te sinto tão perto de mim... procuro-te e nao te vejo... mas vou acreditar que sim... que estás aqui... ao meu lado... bem perto de mim.

Foi aqui na Praia do Almograve que nos conhecemos. Foi aqui que vivemos o melhor de nós os dois juntos.

É para aqui que continuarei a vir...

Porque é aqui... no nosso refugio... que eu me sinto mais perto de ti.

Com muito amor,

Nina (era assim que me chamavas)


“As nossas dúvidas são traidoras e fazem-nos perder o que, com frequência poderíamos ganhar, por simples medo de arriscar.”
William Shakespeare